Portugueses,
Nesta hora difícil que Portugal atravessa, talvez uma das mais difíceis da
nossa já longa história, afectando a vida das famílias portuguesas e dos mais
desfavorecidos de entre nós, Eu, enquanto descendente e representante dos Reis
de Portugal, sinto ser meu dever moral e obrigação política dirigir-vos uma
mensagem profunda e sentida, como se a todos conseguisse falar pessoalmente.
Estamos a viver uma terrível crise económica, o nosso país vê-se esmagado pelo
endividamento externo, pelo défice das contas públicas e pela decorrente e
necessária austeridade.
O actual regime vigora há pouco mais de 100 anos, e muitos dos seus
governantes, por acção ou omissão, não quiseram ou não foram capazes de evitar
o estado de deterioração a que chegaram as finanças públicas. Tais governantes,
é preciso dizê-lo de forma clara, foram responsáveis directos pela perda da
soberania portuguesa e pelo descrédito internacional em que caiu Portugal, uma
das mais antigas e prestigiadas nações da Europa. Sem uma estratégia de longo
ou sequer de médio prazo, sem sentirem a necessidade de obedecerem a um plano
estratégico nacional, não conseguiram construir as bases necessárias para um
modelo de desenvolvimento politicamente são e economicamente sustentável,
optando, antes, pelo facilitismo e pelo encosto ao Estado.
Infelizmente, o Estado, vítima também ele da visão curta com que tem sido
administrado, tem permitido que se agravem as assimetrias regionais, que se
assista à desertificação humana do nosso território e que fique cada vez mais
fundo o fosso que separa os mais ricos dos mais pobres. Infelizmente, Portugal
continua a ser dos países europeus com índices de desigualdade mais altos.
Todos têm o direito de ver bem remunerado o esforço do seu trabalho, da sua
criatividade, da sua ousadia e do seu risco, mas a ninguém pode ser cortada a
igualdade de oportunidades. Agora, neste momento de particular gravidade, em
que nos é pedido um esforço ainda maior, recordo que o Estado é sobretudo
suportado pelo fruto do esforço, do trabalho dos portugueses e de muitas das
empresas a quem os portugueses dão o melhor das suas capacidades. Todos eles
são merecedores do respeito por parte de quem gere os nossos impostos, e é esse
respeito, esse exemplo que se exige ao Estado. Não posso deixar de aplaudir a
dedicação, a entrega e sobretudo a enorme boa vontade com que inúmeros
funcionários públicos se dedicam a servir com dignidade o nosso país.
Mas este diagnóstico e estas constatações valem pouco, valem muito pouco,
quando confrontados com as dificuldades com que muitos portugueses hoje se
debatem. Um facto é incontornável: a crise está aí e toca-nos a todos, e com
ela se vão destruindo postos de trabalho, se vai degradando o nível de vida das
nossas famílias e se vão desprotegendo os mais frágeis. Não tenhamos ilusões:
muitos são os que hoje só sobrevivem graças à imensa solidariedade de que o
nosso povo ainda é capaz. Porque somos um povo generoso, gente de bem, somos um
povo capaz de tudo quando nos unimos em torno de um objectivo comum.
Torna-se importante, por isso, lembrar que neste dia, há quase 9 séculos,
contra todas as adversidades, nascia Portugal, uma nação livre e independente,
fruto da vontade e sacrifício dum povo unido à volta do seu Rei.
Então, como agora, foi fundamental a existência de um projecto nacional, uma
causa comum e desejada que a todos envolveu: grandes e pequenos, governantes e
governados, homens e mulheres. Um projecto que tinha, acima de tudo, o Rei e os
portugueses, unidos por um vínculo indestrutível, constantemente renovado e
vencedor, um vínculo de compromisso que nos ajudou a ultrapassar crises
avassaladoras no passado, e que se prolongou pelos séculos seguintes, sendo
interrompida apenas em 1910.
Foi essa mesma comunhão, uma comunhão de homens livres, que permitiu a
reconquista e o povoamento do território, bem como, mais tarde, a epopeia dos
descobrimentos e a expansão de Portugal pelo mundo. Foi todo um Povo, o nosso
Povo, que enfrentou, com coragem e determinação os mares desconhecidos, “dando,
assim, novos mundos ao mundo”. Foi a gesta de todo um Povo que permitiu criar
este grande espaço de língua e afectos da Lusofonia, vivido em pleno pelas
nações nossas irmãs, hoje integradas na CPLP. E foi a renovação desse projecto
que permitiu a restauração da nossa independência em 1640, neste local, naquela
que foi uma verdadeira refundação nacional, só conseguida pelo esforço e
sacrifício dos Portugueses de então.
É pois este o desafio que temos hoje pela frente: refundar um projecto nacional
capaz de unir todos os Portugueses de boa vontade, com o objectivo de reerguer
Portugal, devolvendo a esperança e o orgulho a cada português. Esse projecto
mobilizador é imprescindível para que cada um de nós possa ambicionar ter uma
vida normal, socialmente útil, para que possa ser promovido pelo mérito e pelo
esforço do seu trabalho, criar uma família e contribuir, cada um na sua medida,
para o engrandecimento de Portugal.
Para que este projecto nacional seja possível, teremos de repensar o actual
sistema político e as nossas instituições, procurando alcançar uma efectiva
justiça social e a coesão económica e territorial, aproximando os eleitos dos
eleitores.
Devemos também considerar as vantagens da Instituição Real, renovando a chefia
do Estado para restaurar o vínculo milenar que sempre uniu os portugueses ao
seu Rei.
O Rei interpreta o sentir da Nação, e age apenas pelo superior interesse do
país, e nenhum outro interesse deve também mover os actores políticos. Portugal
precisa de autoridade moral, de união em torno de um ideal, Portugal precisa de
um projecto que seja o cimento em torno da Nação – a política e, acima dela, a
Coroa, deve procurar sempre servir esse ideal, e nunca servir-se dele em
benefício próprio.
É num sistema político, moderno, democrático, que a Chefia de Estado, isenta
como tem de estar de lutas políticas e imbuída de uma autoridade moral que lhe
advém do vínculo indestrutível e milenar com os portugueses, pode e deve zelar
pelo bom funcionamento das instituições políticas, assegurando aos portugueses a
sua eficácia e transparência. É a mesma Chefia de Estado que pode e deve apoiar
a acção diplomática do Governo com o elo natural que a liga aos países
lusófonos e a muitos dos nossos congéneres europeus. Acredito que só é possível
debater a integração europeia, na sua forma e conteúdo, em torno de um elemento
agregador: a agenda própria de um país multisecular na Europa, mas também com
continuidade linguística, histórica, social, patrimonial e empresarial em
geografias distantes. É o Rei que, personificando a riqueza da nossa história e
cultura, é o último garante da nossa independência e individualidade enquanto
Nação.
Portugal, nação antiga, com um povo generoso e capaz de grandes sacrifícios,
sê-lo-á ainda mais se encontrar no Estado e nos seus representantes o exemplo
de cumprimento do dever, de assunção dos sacrifícios e de sobriedade que os
tempos de hoje e de sempre exigem.
Unidos e solidários num renovado projecto nacional que devolva a esperança aos
Portugueses, reencontrados com uma instituição fundacional – a Instituição Real
– sempre isenta e centrada no bem comum, então todos nós Portugueses – em
Portugal ou espalhados pelo mundo através das vivíssimas comunidades
emigrantes – com a grandeza de alma de que sempre fomos capazes nas horas difíceis,
estaremos dispostos aos necessários e equitativos sacrifícios que a presente
hora impõe. Em nome do futuro de todos os que nos são queridos, filhos e netos.
Numa palavra: em nome de Portugal.
Não duvido que, aconteça o que acontecer, os Portugueses, com calma, ponderação
e perseverança, saberão lutar para continuar a merecer o seu lugar na história
e no concerto das nações. Eu e a minha Família – assim os Portugueses o queiram
– saberemos estar à altura do momento e prontos para cumprir, como sempre, o
nosso dever, que é só um: servir Portugal.
Existe uma alternativa muito clara à actual situação a que chegou a este
regime, alternativa que passa por devolver a Portugal a sua Instituição Real e
que, se não resolve por si só todos os nossos problemas actuais, será
certamente – como o provam os vários países europeus que a souberam preservar –
um grande factor de união popular, de estabilidade política e de esperança
coletiva. Numa palavra, de progresso.
Portugal triunfará! Assim saibamos unir esforços, assim saiba cada um de nós,
de forma solidária, dar o melhor de si mesmo, não esquecendo nunca os que mais
sofrem e os que mais precisam. Que ninguém duvide: somos uma nação
extraordinária, e o valor e a coragem do nosso povo serão a chave do nosso
sucesso.
Viva Portugal!